30.6.14

À Volta da Mesa TALKS Around the Table #5 | Quinta do Alecrim | 17 Junho June 2014 | Terça-feira Tuesday | 19h00 > 21h00



DENIS HICKEL: preparando caixas para as colmeias da Quinta do Alecrim



QUINTA DO ALECRIM | À Volta da Mesa TALKS Around the Table #4 

Conversa Talk |17 Junho June 2014 | Terça-feira Tuesday | 19h00 > 21h00

Iniciativa Iniciative: VORONOI—Acelerador de Partículas Criativas Creative Particles Accelerator  | Galeria Luis Serpa Projectos


Um arquiteto, Denis Hickel, e a sua família trocam Lisboa por um vale agrícola em Torres Novas, que serve de laboratório a uma tese de doutoramento sobre ecologia e design.
Quinta do Alecrim – Uma ecoliteracia de transição. Um arquiteto e uma jornalista trocam Lisboa por um vale agrícola em Torres Novas, que serve de laboratório a uma tese de doutoramento sobre ecologia e design.

Apresentação em primeira pessoa de uma experiência de transição da cidade para o campo — os encontros, os acasos, as dificuldades e as celebrações. O meu processo de transição para o campo é indissociável do processo de pesquisa e descobertas possibilitado pela minha tese de doutoramento. Foi através da tentativa de situar e entender a pratica do design dentro de uma perspectiva essencialmente ecológica que trouxe novas referencias e a vontade de explorar diferentes dinâmicas onde a vida — o viver e o fazer as coisas juntos — se pode assentar. O ponto de partida da conversa é a definição de literacia ecológica proposta por David Orr: Aprender as dinâmicas dos ecossistemas e viver de acordo. Que implicações culturais, sociais e materiais? 

Um pouco da história deste processo: 

A mudança para uma vida no campo acontece ao encarar as causas e a extensão dos nossos problemas ecológicas e em busca de descobrir na pratica como estabelecer um viver de acordo com as dinâmicas dos ecossistemas. Isto fez com que o foco de uma pesquisa em Design vire-se dos seus aspectos materiais para explorar os seus aspectos imateriais implícitos ao processo e aos indivíduos que o fazem, perspectivas, intenções, aspirações e inter-relações. Isto resulta numa proposta tripla de ação em direção à sustentabilidade:
• É necessário construir conhecimento sobre as causas e a extensão dos nossos problemas ecológicos de forma profunda e situá-los dentrodo escopo de entendimento das pessoas;
• É necessário situar as pessoas — o pensar e o fazer — dentro de uma perspectiva essencialmente ecológica: somos parte das dinâmicasdos ecossistemas e devemos aprender a viver de acordo de forma a reorganizar profundamente a nossa ação humana no mundo;
• Os designers, assim como quaisquer outros indivíduos, que são também possuidores de diferentes conhecimentos e habilidades podem co-facilitar imaginários ecológicos como uma forma de antecipação, criação, articulação e empreendimento de um habitat e um ethos ambos viáveis e desejáveis. Como forma de situar, experienciar e aprofundar este entendimento fui ao encontro da comunidade escolar de Torres Novas para convidá-la a co-criar uma visão para a escola em 2025, em face de um possível cenário de energia descendente e as alterações climáticas em curso e contando com o apoio de um léxico ecológico — palavras, termos e conceitos para estimular a criatividade e questionar a cultura vigente. Este encontro teve por objectivo entender como o processo criativo de projetar um determinado tema pode contribuir para construir uma consciência ecológica. 

Mais do que uma série de ideias sobre escolas para um contexto de sustentabilidade profunda, foi neste encontro que entendeu-se que o processo criativo inerente ao ato de projetar funda um espaço essencialmente participativo onde qualquer pessoa pode participar como detentor do seu próprio conhecimento. Desde aí defende-se (1) o aprender pelo fazer — onde o design (o ato de projetar para resolver problemas) é uma ferramenta poderosa de aprendizagem, pois move o sujeito do universo do experimento controlado para uma experiência situada. (2) Devemos repensar globalmente a educação e as formas de educar de acordo com preceitos essencialmente ecológicos. (3) Este deve ser um processo amplamente participativo e situado de acordo com as sensibilidades das pessoas e seus lugares, socialmente, historicamente, geograficamente e biologicamente situado.

Denis Hickel
Nasceu em 1974, é Brasileiro, arquiteto e apicultor, casado e pai de um filho.
Enquanto arquiteto já esteve envolvido com grande diversidade de projetos de design (equipamento, cenografia, edificações, planeamento urbano e paisagismo) no Brasil, em Portugal e em Angola. Hoje vive em Portugal numa pequena quinta na localidade de Alcorochel, Torres Novas, onde se dedica a uma mistura de atividades que se influenciam umas às outras: pesquisa académica em design, horticultura, apicultura naturalista e facilitação de redes de entreajuda. Seu interesse é entender e aprender como o viver de acordo com as dinâmicas dos ecossistemas e procurar formas de integrar as atividades humanas nestas dinâmicas, desde a cultura alimentar, o habitar, o educar e o aprender.
Neste Momento encontra-se a finalizar uma pesquisa de Doutoramento intitulada “O design como forma de fazer as coisas juntos: um entendimento ecológico”, no CIAUD-FAUL, a qual contou uma bolsa da FCT e foi integrada no Centre for the Study of Natural Design, University of Dundee, através de seu orientador, o Professor Seaton Baxter, responsável pela Pós-graduação em “Ecological Design Thinking” do Schumacher College, Devon, Reino Unido.
Esta pesquisa tem por objectivo explorar o encontro entre o design e o pensamento ecológico emergente.